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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Quase Deuses (Something the Lord Made, 2004)

 por Prof. Dr. Celso de Arruda - Jornalista - Psicanalista - Filosofo - Teologo - MBA


A História Real de Superação, Amizade e Avanços Médicos

Quase Deuses (Something the Lord Made, 2004) é um drama biográfico dirigido por Joseph Sargent, que conta a emocionante e inspiradora história da colaboração entre dois médicos que mudaram para sempre a história da medicina cardiovascular. O filme foca no pioneirismo e na relação de parceria entre o cirurgião Alfred Blalock (interpretado por Alan Rickman) e o técnico em cirurgia vivaz e habilidoso, Vivien Thomas (interpretado por Mos Def), cujo trabalho juntos foi crucial para o desenvolvimento da cirurgia cardíaca moderna. A seguir, apresentamos a sinopse, a crítica e uma mini biografia do autor.


Sinopse

Baseado em uma história real, Quase Deuses retrata a extraordinária jornada de Alfred Blalock, um cirurgião conceituado da Johns Hopkins University, e Vivien Thomas, um homem negro sem formação acadêmica formal, que se tornou um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da cirurgia cardíaca moderna. Durante a década de 1940, eles enfrentaram inúmeros obstáculos – desde a segregação racial até a falta de reconhecimento profissional – enquanto trabalhavam juntos no desenvolvimento de uma operação revolucionária para salvar crianças com uma doença cardíaca congênita conhecida como "cianose", que as deixava com a pele azul devido à falta de oxigenação no sangue.

A história se desenrola a partir do momento em que Vivien, que inicialmente trabalhava como assistente de laboratório e não tinha educação formal em medicina, se vê promovido por Blalock a um papel de maior responsabilidade. Juntos, eles realizam a primeira operação bem-sucedida para corrigir a condição da cianose, mudando para sempre os rumos da cirurgia cardíaca e da medicina em geral.

Apesar da inegável genialidade de Vivien, ele enfrenta barreiras sociais e raciais que o impedem de ser reconhecido como coautor da descoberta, enquanto Blalock, que é branco, recebe o crédito por seu trabalho. O filme explora a dinâmica complexa entre os dois, que, apesar das tensões sociais e raciais, formam uma parceria de enorme valor para a medicina, e também revela o sofrimento de Vivien em não ser reconhecido de maneira adequada.

Com uma história comovente sobre amizade, superação e o poder da inovação em tempos de segregação racial, Quase Deuses é uma homenagem a esses dois homens que, juntos, salvaram milhares de vidas e desafiaram as limitações impostas pela sociedade da época.


Crítica

Quase Deuses é um filme que impressiona pela sua história verdadeira, cheia de emoção, superação e inovação. A direção de Joseph Sargent é hábil em capturar a tensão entre as questões de raça e classe, sem deixar de lado a magnificência da conquista médica realizada por Blalock e Thomas. A combinação de um contexto histórico tenso, com um drama humano profundo, torna o filme uma experiência cinematográfica rica e tocante.

Alan Rickman, que interpreta Alfred Blalock, traz uma performance sólida e convincente, revelando um homem brilhante, mas também profundamente consciente das limitações do seu tempo e de sua posição social. O personagem de Rickman é complexo, com uma dinâmica que, muitas vezes, se equilibra entre a admiração e a condescendência. Por outro lado, Mos Def entrega uma performance excepcional como Vivien Thomas, trazendo à tona a frustração, a genialidade e a dignidade de um homem que teve que lutar contra as barreiras do racismo, mesmo sendo um dos maiores talentos médicos de sua época.

O filme se destaca por sua narrativa profunda e emocional, mostrando a dinâmica de amizade e, ao mesmo tempo, de desvalorização entre os dois protagonistas. A segregação racial e o racismo institucionalizado são explorados com sensibilidade, mas sem exageros, mantendo o foco na importância do trabalho coletivo e na contribuição decisiva de Thomas. A tensão entre o reconhecimento merecido de Vivien e o status de Blalock como o médico "líder" é um dos pontos altos do filme, mostrando as complicações e injustiças da época.

O filme também tem uma cinematografia elegante, com uma recriação precisa da década de 1940 e da atmosfera da Johns Hopkins University, o que confere uma sensação de autenticidade ao longa. A música de Mark Isham complementa bem o tom do filme, sendo sutil e emocionalmente evocativa, sem se sobrepor à narrativa.

Entretanto, um ponto que pode ser criticado é a certa simplificação dos eventos em nome da dramaticidade, o que acaba deixando alguns aspectos da história de Thomas e Blalock pouco desenvolvidos. Além disso, apesar da grande importância histórica da história, o filme é, em alguns momentos, previsível em sua abordagem das questões de racismo e de desvalorização do trabalho de pessoas negras, o que pode não surpreender quem já está familiarizado com a temática.


Mini Biografia do Autor: Charles Dutton

Charles Dutton é um renomado ator e diretor norte-americano, conhecido por suas performances intensas e profundas, tanto no teatro quanto no cinema e na televisão. Embora Dutton tenha se destacado principalmente em papéis dramáticos, ele também tem experiência como cineasta e produtor. Ele tem um talento notável para interpretar personagens complexos e multidimensionais, que enfrentam desafios internos e externos.

Embora não tenha sido o autor do roteiro de Quase Deuses, Dutton teve um papel fundamental no projeto, ao interpretá-lo e contribuir com sua experiência de vida e sensibilidade artística para dar vida à história de Vivien Thomas. Sua carreira começou no teatro, e ao longo dos anos ele se destacou em filmes como A Time to Kill (1996), The Corner (2000), e sua atuação em Roc (1991-1994), uma série de televisão que o consolidou como um ator talentoso e respeitado no meio. Dutton também tem uma longa trajetória em peças de teatro e projetos educacionais, onde explora as questões de identidade racial, preconceito e superação.


Conclusão

Quase Deuses é um filme inspirador e comovente, que narra uma história verdadeira de amizade, superação e um marco histórico na medicina. A colaboração entre Alfred Blalock e Vivien Thomas é uma das mais importantes na história da cirurgia cardíaca, e o filme faz justiça a essa história ao combinar uma narrativa emocionalmente rica com performances excepcionais de Alan Rickman e Mos Def.

Embora o filme aborde questões complexas, como o racismo e as dificuldades de um homem negro para obter reconhecimento na medicina de sua época, ele também é uma celebração do trabalho em equipe, da genialidade humana e da capacidade de desafiar as convenções sociais em nome da inovação e do progresso.

ASSISTA O FILME:



Quase Deuses é uma obra cinematográfica que não apenas homenageia duas figuras históricas fundamentais, mas também lança luz sobre questões que ainda são relevantes hoje, como a luta pelo reconhecimento, a igualdade e o impacto da segregação racial nas oportunidades de vida. Para aqueles que buscam uma história inspiradora de superação e colaboração, Quase Deuses é uma obra imperdível.

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